sábado, 16 de junho de 2012

Cálcio da dieta é melhor que dos suplementos para a segurança cardiovascular


Autores de outro estudo sugerindo que os suplementos de cálcio podem aumentar o risco de infarto do miocárdio, afirmam que as pessoas que efetivamente precisam de mais cálcio devem, em primeiro lugar, e principalmente, tentar aumentar a ingesta deste mineral pela dieta [1]. Publicando seus achados na edição de junho de 2012 do Heart, Dr. Kuanrong Li (Centro Alemão de Pesquisa em Câncer, Heidelberg, Alemanha) e colaboradores concluíram que os suplementos de cálcio “deve ser usados com cautela.”
Eu não diria que suplementos de cálcio são prejudiciais, mas eu não diria que são inofensivos.
A autora sênior, nutricionista Dra. Sabine Rohrmann (Universidade de Zurique, Suíça), disse ao heartwire: “Eu não diria que suplementos de cálcio são prejudiciais, mas eu não diria que são inofensivos.” E embora ela não acredite que deve haver um aviso para não usar esses suplementos, “porque mais trabalhos são necessários”, os médicos devem inicialmente tentar encorajar os pacientes que têm deficiência de cálcio a obter o que precisam pela dieta, ela destaca.
“Meu conselho é que os médicos devem avaliar cuidadosamente a dieta de seus pacientes e tentar fazer ajustes (recomendar os alimentos apropriados). Se a ingesta de cálcio não for o suficiente, devem recomendar um suplemento com dose máxima de 500 mg. Melhor ainda seria recomendar uma dose mais baixa a ser tomada duas vezes ao dia.
Grandes quantidades de cálcio pode gerar um “pico”, levando a aterogênese
Li et al e os autores de um editorial de acompanhamento [2] – Drs. Ian R Reid e Mark J Bolland (University of Auckland, Nova Zelândia), os quais já publicaram pesquisa sobre o tema – dizem acreditar que um “pico” sérico na concentração de cálcio, que ocorre após a suplementação com doses grandes de cálcio, pode ser o responsável pelo maior risco de infarto do miocárdio, possivelmente conduzindo ou acelerando a aterogênese.
Devemos voltar a ver o cálcio como um componente importante de uma dieta balanceada e não como uma panaceia de baixo custo para o problema universal da perda óssea pós-menopausa.
Por outro lado, o cálcio da dieta é tomado em pequenas quantidades, distribuídas ao longo do dia, usualmente junto com gorduras e proteínas, sendo portanto absorvida lentamente, causando pouca alteração nos níveis séricos de cálcio, eles destacaram.
“Os suplementos de cálcio têm sido amplamente adotados por médicos e pelo público, que acreditam que eles são um forma natural e, portanto, segura de prevenir fraturas osteoporóticas”, dizem Reid e Bolland.
“Está agora se tornando aparente que usar este micronutriente em uma ou duas doses diárias não é natural, uma vez que não reproduz os mesmos efeitos metabólicos do cálcio nos alimentos. Devemos voltar a ver o cálcio como um componente importante de uma dieta equilibrada e não como uma panaceia de baixo custo para o problema universal da perda óssea pós-menopausa”, acrescentam.
“Evidências crescentes” de um efeito cardiovascular dos suplementos de cálcio
Li et al analisaram os dados epidemiológicos de uma de duas coortes alemãs, Heidelberg, que participam do European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition Study (EPIC). Havia 23 980 participantes com idade entre 35 e 64 anos, sem história de eventos cardiovasculares maiores no recrutamento. Um questionário auto-administrado de frequência alimentar foi usado para avaliar o consumo de 148 alimentos nos 12 meses anteriores à data de recrutamento. Em uma entrevista inicial e questionários de acompanhamento, os participantes foram questionados se haviam tomado regularmente vitaminas ou suplementos minerais nas últimas quatro semanas.
Após um tempo de acompanhamento médio de 11 anos, 354 infartos, 260 acidentes vasculares encefálicos e 267 mortes cardiovasculares foram documentados. Não houve associação entre o uso de suplementos de cálcio e acidente vascular cerebral ou mortalidade cardiovascular. Mas os usuários de quaisquer suplementos que continham cálcio apresentaram um risco significativamente aumentado de infarto do miocárdio em comparação com não usuários de suplementos (HR 1,86; IC 95% 1,17-2,96) após ajuste multivariado. Este efeito foi ainda maior naqueles que usaram apenas suplementos de cálcio, em comparação com combinação de suplementos que continham cálcio (HR 2,39; IC 95% 1,12-5,12).
Embora Rohrmann admita que o número de eventos tenha sido pequeno, apenas 20 infartos em 851 usuários de qualquer suplemento e apenas sete infartos entre as 256 pessoas que usavam apenas suplementos de cálcio, em comparação com 256 eventos nos 15.959 não-usuários de suplementos, ela diz que os resultados ainda são válidos “porque são estatisticamente significantes.”
Ela também diz que os novos resultados se somam aos de vários outros estudos observacionais e meta-análises ao longo dos últimos anos que têm sugerido uma associação entre a suplementação de cálcio e aumento do risco de infarto do miocárdio.
Reid e Bolland concordam em seu editorial que esta é outra peça do quebra-cabeça. “Assim, evidências crescentes de um efeito cardiovascular real do uso de suplementos de cálcio, levantando a questão de saber se este efeito é suficientemente importante para anular os efeitos benéficos sobre fraturas.”
Isso não significa que o cálcio não é importante, mas eu gostaria de incentivar as pessoas a usar fontes alimentares como uma alternativa aos suplementos.
Li et al também observaram que a ingesta total de cálcio foi de certa forma protetora contra o infarto do miocárdio, embora não tenham observado uma associação linear, como previamente publicada. Em comparação com aqueles no menor quartil de consumo de cálcio da dieta e de laticínios, pessoas no terceiro quartil tinham um risco cerca de 30% menor de infarto do miocárdio (HR de 0,69 e 0,68), que foi significante. Mas enquanto aqueles no quartil mais elevado também tiveram um menor risco de infarto do miocárdio que aqueles no quartil inferior, essa diferença não foi significativa, disse Rohrmann.
“Eu não sou uma especialista em osteoporose”, disse ela, “mas as pessoas abaixo dos 50 anos de idade precisam de cerca de 1000 mg de cálcio ao dia e aquelas acima dos 50 em torno de 1200 mg. E o que sabemos da literatura é que muito mais que estes valores não aumentam muito os benefícios. Além disso, há coisas muito mais eficazes para serem recomendadas para a prevenção da osteoporose que o cálcio, como exercício e vitamina D. Isso não significa que o cálcio não é importante, mas eu gostaria de incentivar as pessoas a usar fontes alimentares como uma alternativa aos suplementos. Para quem não tolera bem os produtos lácteos, brócolis, repolho e couve são ricas fontes de cálcio, e existem águas minerais e sucos de laranja disponíveis que são enriquecidos com doses mais baixas de cálcio do que os suplementos.
Pesquisadora diz que a cobertura da imprensa foi, no geral, “boa”. 
O artigo de Li et al e o editorial de acompanhamento geraram grande cobertura da imprensa em todo o mundo na semana passada, com uma busca encontrando 199 artigos sobre o tema, hoje.
Muitos saíram com a manchete de que suplementos de cálcio quase dobram o risco de eventos cardíacos. No entanto, muitas destas publicações esclareceram no texto que a suplementação deve ser vista com cautela, ao invés de ir tão longe e sugerir que o uso deve ser abandonado. Outras manchetes foram mais cautelosas, incluindo do New York Times, que usou a manchete “Tomar cálcio pode representar um risco para o coração [3].”
Algumas notícias assumiram uma postura diferente, como uma do site do Daily Telegraph britânico [4], intitulada “Não há necessidade de pânico sobre nova pesquisa do cálcio em eventos cardíacos”, que acompanhou uma entrevista em vídeo comNatasha Stewart, enfermeira cardíaca sênior do British Heart Foundation ( BHF). Ela aconselhou aos pacientes que receberam prescrição de suplementos de cálcio a continuar a usá-los, mas para consultar seu médico com qualquer dúvida. “Não se preocupem com o que estes resultados dizem, precisamos de mais pesquisas”, observou ela. No entanto, um artigo sobre o mesmo estudo, que também foi publicado online no site [5] afirmou: “Pílulas de cálcio 'dobram o risco de eventos cardíacos'”, como fez uma manchete sobre o artigo que saiu na primeira página da versão impressa do    jornal. Outras publicações tentaram mostrar os dois lados da história [6], tentando passar mensagens importantes para os leitores.
No geral, Rohrmann disse ao heartwire, a cobertura da imprensa foi “boa”. Esperávamos que os médicos que tratam pacientes com osteoporose ficariam hesitantes sobre nossos resultados. Como uma nutricionista, eu sempre recomendo que as pessoas devem tentar obter os nutrientes da dieta. Eu acredito que muitas pessoas confiam nos suplementos para compensar uma dieta desequilibrada. No entanto, para os pacientes, é importante esclarecer a situação com o médico.”

Li et al e ambos os editorialistas não declararam conflitos de interesse.

Referencias:
  1. LI K, Kaaks R, Linseisen J, et al. Associations of dietary intake and calcium supplementation with MI and stroke risk and overall CV mortality in the Heidelberg cohort of the European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition Study (EPIC-Heidelberg). Heart 2012; 98:920-925. Abstract
  2. Reid IR and Bolland MJ. Calcium supplements: Bad for the heart? Heart 2012; 98:895-896. Abstract
  3. O'Connor A. Taking calcium may pose heart risks. New York Times, May 24, 2012. Available here.
  4. No need to panic over new calcium heart attack research, say British Heart Foundation. Daily Telegraph, May 23, 2012. Available here.
  5. Adams S. Calcium pills 'double heart attack risk.' Daily Telegraph, May 24, 2012. Available here.
  6. Calcium pill heart attack link unclear. Carrick Gazette, May 30, 2012. Available here.

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